Sermão: Quem recebe pouca graça, demonstra pouco amor
Síntese da
mensagem:
Simão, um fariseu, convidou Jesus
para um jantar em sua casa com a intenção deliberada de insultá-lo e testá-lo.
O doutor da Lei deixou de fora todos os rituais básicos de hospitalidade, que
ele não poderia ter feito sem má intenção deliberada. Ele estava tratando Jesus
não como um convidado de honra, mas como uma pessoa muito inferior. Uma mulher
que provavelmente fora alcançada pela graça do Senhor em um momento anterior a
este encontro, mas que ainda era adjetivada de "pecadora"; possuída
por um sentimento de devoção e talvez de ira santa, oferece a Jesus a honra que
ele merecia, mas não tinha recebido. Neste relato, a designação de “pecador” é
precisamente inversa: Quem é o pecador? Aquele que se recusa a acolher Jesus
como salvador, que não tem experimentado profundamente a graça de Deus e por
isso pouco ama. Logo, o fariseu é o pecador aos olhos do verdadeiro profeta que
ver o coração e não apenas a ação.
Estrutura do
texto:
Cena 1: Uma recepção imerecida v. 36
Cena 2: Uma honra merecida vv.
37,38
Cena 3: Um julgamento cego vv. 39,
40
Cena 4: Uma parábola sobre a Graça. Vv. 41-42
Cena 5: Uma única resposta possível v. 43
Cena 6: Atitudes contrastantes vv. 44-48
Cena 7: Um final
sem fim vv. 49-50
Texto: Lucas 7. 36-50
CENA 1 - UMA
RECEPÇÃO IMERECIDA.
36 Convidado por um dos fariseus
para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa.
Por que Jesus foi convidado pelo
fariseu? Por que ele era um grande mestre e ele queria honrá-lo? A Falta de
decoro hospedeiro deixa claro que não. Especificamente dentro do contexto
judaico, caso não se tratasse de um ato meritório, era, no mínimo, uma honra
receber um mestre respeitado para uma refeição. Ao chamar Jesus de mestre, os
fariseus acabaram lhe concedendo um título de honra e respeito, como Mateus
23.8-10 e outros textos deixam claro. Esperava-se, então, que fosse oferecida
Jesus, o maior de todos os mestres, a recepção refinada conhecida até em tão. O
doutor da Lei, no entanto, deixou de fora todos os rituais básicos de
hospitalidade, que ele não poderia ter feito sem má intenção deliberada. Ele
estava tratando Jesus não como um convidado de honra, mas como uma pessoa muito
inferior.
O fato de as pessoas se
reclinarem nas refeições indica que se tratava de uma ocasião relativamente
formal, e que alguns protocolos deveriam ser seguidos. O costume na época ditava
que quando um convidado entrasse em sua casa, o anfitrião iria cumprimenta-lo
na porta com um beijo, no rosto se fossem iguais ou na mão se fossem
diferentes, no caso de mestres e discípulos, por exemplo (no jardim, Judas não
beijou Jesus no rosto, como é a opinião popular, mas nas mãos). Levison, um
cristão hebreu palestino, assevera que “no caso de um Rabi todos os membros do
sexo masculino esperavam na porta da casa, e beijavam em sua mão”.[1]
Em seguida, a água e o azeite de oliva eram trazidos para lavar as mãos e os
pés do hóspede. Em alguns casos, o anfitrião ungia a cabeça do convidado com o
óleo. Nenhuma dessas cortesias foram estendidas a Jesus por Simão. Foi uma
terrível quebra de protocolo e boas maneiras.
Como, corretamente observa
Tristam, omitir esta cortesia seria dar a entender que o visitante era de
posição social inferior. Por isso, diante de uma situação dessa, a maioria dos
rabinos teria deixado a casa de Simão, após ter sido tratado de forma tão rude.
Simão estava, assim, desafiando diretamente e publicamente a autoridade de
Jesus.[2]
Normalmente, porque Simão foi tão
claramente rude para com Jesus, ele esperava que Jesus não fosse ficar e que
deixasse a reunião, não permanecendo assim na humilhação, mas Jesus permanece.
37 Ao saber que Jesus estava comendo
na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um
frasco de alabastro[3]
com perfume, 38 e se colocou atrás de Jesus, a
seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os
enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. Lucas
7:37-38
A mulher, que era conhecido na
cidade[4]
como pecadora, soube que Jesus iria comer na casa de Simão, naquele dia, de
modo que ela estava presente quando Jesus chegou. A interpretação mais aceita,
porém ainda incerta,[5]
é que a mulher era uma prostituta.[6]
O isolamento de certos alimentos e sobre tudo de pessoas impuras era essencial
para um fariseu quando se assentava para comer. Por essa razão, a presença da
mulher e suas ações subsequentes, foram extremamente ofensivas para o fariseu e
seus outros convidados, eles a enxergava como uma pecadora.
Agora, como é que esta mulher
conseguiu entra na casa de Simão? Nenhum fariseu a teria como uma convidada
para um jantar, como evidenciado pelo fato de que os fariseus criticavam Jesus
por comer com os pecadores. A mulher, na verdade, estava lá não como convidada,
mas como uma daquelas pessoas que foi autorizada a observar a refeição, mas sem
participar da mesma. Essas pessoas sentavam-se calmamente no chão, contra a
parede, e no final da refeição eram alimentadas pelas sobras. Sua presença era
um elogio para o anfitrião, que era por essa razão, visto como tão nobre que
alimenta os pobres da comunidade. Os rabinos insistiam que as portas fossem
abertas quando a refeição estava em andamento para que não “faltasse comida”
(ou seja, para que não fechasse as bênçãos de Deus).
Por que ela estava lá? Qual foi a
razão para sua atitude para com Jesus? É provável que ela estava lá porque
tinha ouvido as palavras Jesus em um momento anterior a este encontro e foi por
elas transformada. Alguém que fora alcançada pela graça e agora vive a alegria
da salvação. No entanto, testemunhando[7]
a fria recepção e um insulto que Jesus recebeu por Simão a deixou profundamente
triste. Simão não tinha lavado os pés de Jesus, um sinal claro de que ele o
considerou inferior. Ele, também, não tinha se quer oferecido água para que
Jesus mesmo lavasse os seus próprios pés. Não foi dado nenhum beijo de
saudação. Jesus foi, assim, desonrado publicamente.
Ao ver isto a mulher chora. E, Possuída
por um sentimento de devoção e talvez de uma ira santa, oferece a Jesus a honra
que ele merecia, mas não tinha recebido. Ela evidencia seu a amor e devoção por
meio de três gestos traumáticos:[8]
Com Lágrimas ela lava seus pés e
com um gesto supreendentemente íntimo, desata o cabelo para enxugá-lo. Isso significa que as lágrimas não foram premeditadas, que
elas eram muitas e que, na falta de uma toalha, o cabelo dela era o único meio
à mão para secar os pés de Jesus.[9]
Sentindo-se
indigna de beijar até mesmo suas mãos, ela “beija repetidamente” (essa é a
ideia do verbo [Gr. Katephilei – imperfeito] no original) seus pés. Beijar os pés de uma pessoa era a forma mais
extrema de se expressar honra, gratidão e submissão. Era, também, um ato de
suprema humildade.
Com um perfume, que era muito
caro[10]
na época (custando até um ano de salário de um trabalhador médio neste período),
ungiu[11]
os pés[12]
de Jesus, como expressão de gratidão por aquilo que Jesus tinha feito por ela.
No Talmude[13]
há uma história de um homem acusado de assassinato que beija os pés do advogado
que foi absolvido e, assim, salvou sua vida.[14]
Bailey observa que toda ação
dramática é conduzida sem palavras, e de fato, a linguagem é inútil na presença
de expressões tal caras e ternas de devoção e gratidão. Assim, se por um lado o
gesto de Simão dá a entender que Jesus estava em posição social inferior, o ato
da mulher lhe atribui a honra de um nobre na casa de um rei.[15]
39 Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado
disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está
tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ ".
Esta, na língua grega, é uma
sentença condicional de segunda classe, que expressa algo ao contrário da
realidade dita. A forma desta frase mostra que Simão não acreditava que Jesus fosse
um profeta. Esta é uma construção frasal singular, que seria entendida como
"Se este homem fosse profeta, o que
ele não é, ele saberia quem e que tipo de pessoa é essa mulher que o toca.[16]
Observe ainda, que Simão se dirigiu a Jesus como “professor” (Gr. didaskale,
equivalente “rabino” cf. 9.38; 20.21,38; 21.7; 22.11), menos do que um profeta.
Todo o terceiro Evangelho as
pessoas estão sempre vendo Jesus e suas obras, e isso leva alguns a acreditar,
mas outros não. E este é o tema da seção que precede o episódio na casa de
Simão, o fariseu. A cena do jantar vem na sequência da investigação dos
discípulos de João Batista feita a Jesus: “És
tu aquele [profeta] que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lc
7.20). O versículo seguinte exclama: “aquele momento Jesus curou muitos que tinham males, doenças
graves e espíritos malignos, e concedeu visão a muitos que eram cegos” (Lc 7.21). Jesus então responde
aos discípulos de João: “Voltem e
anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem, os aleijados andam,
os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as
boas novas são pregadas aos pobres;” (Lc 7.22). E conclui: “Feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (7:23). A questão é como as
pessoas avaliam o que veem e ouvem a respeito de Jesus: Eles creem nele? ou
eles se ofendem?
Na cena seguinte (7.24-35),
depois que mensageiros de João foram embora, Jesus fala às multidões. Ele as
interroga sobre o que elas viram no deserto quando seguiram João. Três vezes
ele pergunta de forma retórica: “que
vocês foram ver no deserto?”: “um caniço agitado pelo vento?” (V. 24). “O que foram ver? Um homem vestido de roupas finas?” (V. 25). E novamente: “Afinal, o que foram ver? Um profeta?” (V. 26). A questão de ver um profeta, criado verso
26, prepara o caninho para a objeção de Simão no v. 39, que, se Jesus fosse um
profeta, saberia quem e que tipo de mulher o estava tocando.
Os versículos 29-30 mostram que,
com Jesus, assim como foi com João antes dele, alguns estavam dispostos a ver o
profeta e se convertessem a Deus; os outros não. O versículo 29 afirma, de um
lado, que “todo o povo, até os publicanos, ouvindo as palavras
de Jesus, reconheceram que o caminho de Deus era justo, sendo batizados por
João.” Por outro
lado, “os fariseus e os
peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados
por João” (v. 30). A parábola nos versos 31-32 continua a
contrastar respostas reais para dadas a mensagem do reino: “A que posso, pois, comparar os homens desta
geração?’, prosseguiu Jesus. ‘Com que se parecem? São como crianças que ficam sentadas
na praça e gritam umas às outras: Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não
dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não choraram’”. A menção de choro conduz todo
drama de Lucas 7.36-50, onde a mulher, que exemplifica a resposta desejada está
por trás de Jesus, “a seus pés chorando” (v 38).
Na sequência a parábola dos
filhos no mercado, vv. 33-34 retorna à questão de ver. Para aqueles
determinados a não “ver” o caminho que conduz à fé, eles vão ver o que querem:
em João, “que jejua e não bebe vinho”
eles veem um homem “possuído por um demônio” (v. 33); em Jesus, que “veio
comendo e bebendo” veem “um comilão e beberrão, amigo de publicanos e
pecadores” (v. 34).
Agora descobrimos a razão pela
qual Simão convidou Jesus para Jantar. Ele queria Testá-lo para ver se era ou
não um profeta. Para o fariseu, Jesus não poderia ser um profeta por não
compreender o tipo de mulher que o havia tocado, mas, com certa ironia da
narrativa, Jesus mostra que é um profeta “justamente” por saber o que está no
coração dos fariseus e “ainda mais” que um profeta porque anuncia o perdão dos
pecados. [17]
40 Respondeu-lhe Jesus: “Simão,
tenho algo a lhe dizer”. “Dize, Mestre”, disse ele. 41 “Dois
homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. 42 Nenhum dos dois tinha com que lhe
pagar, por isso perdoou a dívida a ambos”.
Respondeu-lhe Jesus: “Simão, tenho algo a lhe dizer”. “Dize,
Mestre”, disse ele. Alguns
comentaristas dizem que temos aqui um pedido de licença para falar. Mas, é mais
provável que essa seja uma expressão idiomática que introduz um discurso brusco
que o ouvinte pode não querer ouvir. Jesus agora faz algo que é muito
culturalmente inaceitável. Ele critica seu hospedeiro. Jesus teve a coragem de
confrontá-lo com o seu comportamento na frente de todos os seus outros
convidados.[18]
Se confronto começa com uma breve e simples parábola: “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e
o outro, cinquenta. Nenhum dos
dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos”. Lucas 7.
41,42.
O endividamento era um problema
social terrível no mundo antigo. Muitas pessoas se identificaram com esta
história. Um denário representava o pagamento de um dia para um trabalhador
comum. Portanto, a primeira pessoa citada na parábola devia pouco mais do que o
seu salário de um ano e meio de trabalho, e a segunda devia cerca de dois
meses.
Ambos os devedores foram
incapazes de pagar. Para ambos a dívida fugira de seu controle. Não importava
quem deve mais ou menos. Ambos estão falidos. Assim, os dois devedores são
nivelados pelas suas incapacidades de pagar a dívida e necessidade de perdão. Imagine
uma pessoa se afogando em 50 metros de água e outra se afogando em 500 metros.
Seria ridículo se a pessoa em 50 metros de água olhasse para que se encontra em
500 metros e pensasse: “Bem, pelo menos eu estou melhor do que aquele pobre
coitado!” E, não faria nenhum bem para a pessoa em 500 metros de água a pensar:
“Se eu conseguir nadar até onde esse cara estar, em 50 metros de água, eu vou
ficar bem!” Ambos estão em apuros, pois ambos não “dão pé”. Ambos precisam de
uma salva vidas.
O verbo usado para o cancelamento
da dívida tem sua raiz na palavra grega “charis”, que é muitas vezes traduzido
como “graça”. Este termo é muito usado por Paulo no sentido de oferecer graça.
É isso que o credor faz! Quanto mais você vê a sua dívida e sua própria
incapacidade de pagá-la, mais você vai ver o quanto o Salvador fez por você
quando Ele sofreu a pena em seu lugar na cruz. Quando você vê as profundezas de
seu grande amor, você vai amá-lo mais e mais.
42c “Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: "Suponho que
aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem",
disse Jesus.
Existe certa semelhança de forma
entre esta parábola e a do Bom Samaritano (Cf. Lc 7.42 e Lc 10.36). Jesus usa
uma forma modificada do método Socrático. Este consiste em uma técnica de
investigação filosófica feita em um diálogo no qual o professor conduzir o
aluno a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores. Para isso
ele faz uso de perguntas simples e quase ingênuas que têm por objetivo, em
primeiro lugar, revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do
aluno, normalmente baseadas em valores e preconceitos da sociedade (o espírito
da época) e não da verdade absoluta.
Ao contar a parábola e depois
pedir uma resposta óbvia a Simão, diante da qual Ele tira uma conclusão final,
Jesus o leva a pensar por si mesmo e de forma pública redefinir seus valores. Evidente,
que pelo fato de Simão ter entendido a “arapuca” que acabara de entrar, a resposta
veio com certo tom de desdém: "Suponho
que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". Mas Jesus pouco se
importa com maneira. Ele se concentra no conteúdo da resposta e assevera: "Você julgou bem".
44 Em seguida, virou-se para a mulher e disse a
Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para
lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou
com os seus cabelos. 45 Você não me saudou com um beijo, mas
esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. 46 Você não ungiu a minha cabeça com
óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. 47 Portanto, eu lhe digo, os muitos
pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco
foi perdoado, pouco ama". 48 Então Jesus disse a ela: "Seus pecados
estão perdoados".
Jesus estava levando Simão a olhar
aquela mulher como pessoa alcançada pela graça e não como uma pecadora. Ele não
entendeu que ela era uma pessoa perdoada porque foi amada por Deus. Ela poderia
ser uma convidada porque faz parte da comunhão dos santos. Jesus queria, assim,
transformar a visão que Simão tinha da mulher em particular, e através disso,
das pessoas em geral.[19]
Observe que Jesus se dirige a
Simão, mas enquanto fala olha para mulher. Assim, a ênfase não é em o que Simão
deveria fazer e não fez, mas sim no que a mulher fez. Jesus estabelece uma
série de contrates:
Simão
|
A
mulher
|
Nenhum beijo
|
Vários beijos
|
Nenhuma água
Mais uma vez Jesus assume a atitude de um mestre
humilde. Jesus não disse: Você não lavou meus pés (seria muito presumir isso
de um fariseu orgulhoso). Ele diz: “você não me deu água para lavar os pés”
|
Várias
lágrimas
Teve necessidade de enxugar
|
Nenhum
óleo
Azeite era abundante e barato.
Óleo na cabeça – Lugar nobre
|
Muito perfume
Perfume escasso e caro
Perfume nos pés
|
Nenhuma atitude de honra
|
Várias
atitudes de devoção
|
Chegamos a verso de maior
divergência do texto: 47 Portanto, eu lhe digo, os
muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo
que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama".
A Bíblia na versão ARA o traduz assim: 47
“Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a
quem pouco se perdoa, pouco ama (ARA – destaques meus).
Uma leitura rápida e desatenta
pode levar ao entendimento de que o perdão de Jesus veio como um efeito do amor
demostrado pela mulher. Assim, alguns teólogos enfatizam a
palavra “amor” e transforma-o em um novo requisito para o perdão e aceitação. No
entanto, O amor é certamente o subproduto de um relacionamento pessoal com Deus
através de Cristo, mas não é o critério de aceitação. Aceitação é baseado na
obra consumada e completa do Filho. Os seres humanos devem responder em
arrependimento e fé.[20]
Existem elementos textuais que
sustentam esta tese. Em primeiro lugar, o verbo “perdoados” (χάριν) no verso 47 está no tempo
perfeito, isso significa na língua grega, que essa é uma condição presente
resultado de uma ação passada. Em segundo lugar, o texto diz claramente que a
mulher era uma pecadora, mas o tempo verbal no versículo 37 é imperfeito, que
tem a conotação de “costumava ser”. Em outras palavras, ela era uma pecadora
(que vivia na prática do pecado), mas não é mais agora. Finalmente, essa
afirmação é aplicação da parábola. Nela, como vimos anteriormente, primeiro vem
o perdão depois o amor: 42c “Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: “Suponho
que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. "Você julgou bem",
disse Jesus.
A cena continua: “Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco
ama” v. 47. Essa frase pode ser entendida de duas maneiras: A primeira, Jesus
está dizendo: Simão você é um homem reto e tem poucos pecados. Está era uma
grande pecadora, por isso ela amou muito! A segunda, e a mais provável, é: Você
Simão tem muitos pecados (tais como orgulho, arrogância, dureza de coração,
espírito julgador, insensibilidade, e incredulidade) como eu acabei de te
mostrar. Você tem pouca percepção deles e não se arrependeu. Por isso, você foi
perdoado pouco e por isso ama pouco.[21]
Assim, o ponto da
parábola é que o amor é a resposta correta a graça, favor imerecido; aquele que
foi perdoado da maior dívida e que mais ama é o que mostra mais gratidão.
Cena 7: Uma conclusão inconclusiva.
49 Os
outros convidados começaram a perguntar: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50 Jesus
disse à mulher: “Sua fé a salvou; vá em paz”. Os outros convidados começaram a perguntar: “Quem é este
que até perdoa pecados?” 50 Jesus disse à mulher: "Sua fé a
salvou; vá em paz".[22]
Não há nenhuma indicação da
resposta de Simão. Será que ele entendeu as palavras de Jesus? Ele viu que ele
estava errado em seu julgamento da mulher? Será que ele aceitou que ela era
alguém que tinha muitos pecados perdoados e, portanto, muito amou? Ele viu a si
mesmo como alguém que ama pouco? Será que Simão entendeu que ele é um devedor, e
assim um pecador que precisa do amor e do perdão de Deus, ou ele continuou focado
nos pecados dos outros? Será que ele aceitou que a mulher era perdoada, e que
ela agora mudou, e assim ele vai aceitá-la de volta na comunidade? Estas
perguntas não são respondidas. Como na parábola do Filho pródigo a história
deixa o final em suspense. Os leitores da época, assim como nós hoje, precisam
completar a parábola com a reação pessoal ao único agente de Deus de perdão e
paz. Confrontado com a mensagem da cruz, o homem reage de duas maneiras: fé ou
ofensa! E sua reação, em termos práticos, qual tem sido?
Conclusão: Amarrando os pontos
Simão, um fariseu, convidou Jesus
para um jantar em sua casa com a intenção deliberada de insultá-lo e testá-lo.
O doutor da Lei deixou de fora todos os rituais básicos de hospitalidade, que
ele não poderia ter feito sem má intenção deliberada. Ele estava tratando Jesus
não como um convidado de honra, mas como uma pessoa muito inferior. Uma mulher
que provavelmente fora alcançada pela graça do Senhor em um momento anterior a
este encontro, mas que ainda era adjetivada de "pecadora"; possuída
por um sentimento de devoção e talvez de ira santa, oferece a Jesus a honra que
ele merecia, mas não tinha recebido. Neste relato, a designação de “pecador” é
precisamente inversa: Quem é o pecador? Aquele que se recusa a acolher Jesus
como salvador, que não tem experimentado profundamente a graça de Deus e por
isso pouco ama. Logo, o fariseu é o pecador aos olhos do verdadeiro profeta que
ver o coração e não apenas a ação.
APLICAÇÕES
1. Somos
ágeis em apontar o pecado dos outros e lerdos em reconhecermos os nossos.
Eu tenho
percebido isso no transido. Que diga se passagem tem muita gente ruim (Ai
acabei de pecar julgando os outros). Minha esposa me ajudou a enxergar isso de
forma mais clara. Eu vivia: ora falando que tinha muita gente estressada que
vivia correndo; ora que tinha muita gente lerda que andava como uma tartaruga. Até
que a Denise me alertou: “Amor você já percebeu que quando você está atrasado
todo mundo está lento; e quando você ‘está de boa’; todo mundo está estressado
e correndo”. E completou citando as palavras de Jesus: Antes de ver o cisco no
olho do outro tira a trave do teu. Como Simão, nós condenamos atitudes dos
outros e nem percebemos que, não poucas vezes, agimos exatamente da mesma maneira.
E que também, somos ágeis em apontar o pecado dos outros e lerdos em
reconhecermos os nossos.
2. Toda
gratidão conduz necessariamente à uma consagração.
a. A
atitude da mulher é uma “dramatização” do salmo 116.
·
Uma análise da
vida – vv. 1 – 4.
·
O cuidado de
Deus. Vv. 5 – 11
·
Uma pergunta
perturbadora. V. 12 “Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo?”
·
Atitudes de
consagração vv. 13 – 19.
3.
O mal entendimento da graça faz Pai
um ídolo e o verdadeiro faz dele um Deus.
Os
atos de amor da mulher são atitudes de agradecimento pela graça recebida e não
atitudes para ganhar outras. Jesus é adorado pelo que ele é e não pelo que ele
poderia fazer. A igreja mercado brasileira apresenta Deus como um ídolo com se
pode barganhar e não um Deus a quem se deve adorar.
4. A adoração é o combustível das
missões.
Foi o
desejo de ver Jesus sendo honrado como deveria que levou a mulher a quebra o
protocolo a fim de oferecer a Jesus a honra que lhe era devida. O salmo 96. 8
afirma: “Deem ao Senhor a glória devida ao seu nome, e entrem nos seus átrios
trazendo ofertas”. O verbo “Deem”
(Wbïh' - yâhab – tributai na ARA), em seu radical primitivo
traz a ideia de “dar” algo (normalmente importante), tanto de maneira literal
como figurada, e ele é usada tanto para se referir a Deus, como aos homens.
Quando usado para Deus, não quer dizer que alguém estar dando-lhe algo que ele
já não tenha, mas atribuindo-lhe algo que ele já tem, e assim, apenas dar-lhe o
que é devido.[23]
Por essa razão, ele expressa a ideia de reconhecimento reverente. Sendo assim,
as nações apresentadas nos primeiros versos deste salmo, deveriam reconhecer a
sua glória e a sua força propocinalmente a sua margestade.[24]
Assim, o objetivo das missões é a alegria dos povos na grandeza do Cordeiro de
Deus o Rei dos Reis e mestres dos mestres.
Para John Piper, a Adoração é o alvo principal da Igreja, o combustível
das missões e a razão motivacional para a mesma, pois a principal razão de ser
das missões é levar os povos a darem a honra devida ao Senhor Jesus. A paixão
por Cristo na adoração precede a apresentação de Deus por meio da pregação.
Assim as missões começam e terminam na adoração. Não existe igreja adoradora se
ela não for missionária.
[1]
Apud BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 45
[2]
Apud BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[3]
Alabaster era uma pedra amarela esbranquiçada, que foi nomeado para a cidade no
Egito (Alabastron), no qual ele foi desenvolvido.
[4]
Esta cidade foi no norte, possivelmente Cafarnaum. Os outros Evangelhos
registram uma unção por uma mulher na casa de um Simon, perto de Jerusalém.
[5]
Para os líderes judeus, quem não cumpriu todas as regras e rituais do Talmud
esperados era considerado um pecador (por exemplo, pastores, curtidores)
[6]
MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida
Nova, 1986. p. 134.
[7]
As palavras de Jesus “desde que entrei aqui, não
parou de beijar os meus pés”, mostra que ela estava lá antes dele, ou
que ela tivesse chegado a tempo de testemunhar a recepção descortês que ele
tinha recebido em sua chegada.
[8]
Cf. BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[9]
SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as
parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012
[10]
MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida
Nova, 1986. p. 139.
[11] A unção com óleo era um
procedimento comum (cf. Dt 28.40; Rt 3.3; SI 23.5), mas a unção com um perfume
caro (myron, a palavra citada em Lc
7.37) era incomum. A unção dos pés pode ter sido altamente incomum, e o ato de
ungi-los com perfume, aparentemente, além de ser uma extravagância seria quase
que certamente um ato ofensivo, especialmente se partisse de uma mulher
pecadora. Cf. SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia
completo. Rio de Janeiro: 2012
[12]
Nestes eventos os outros sociais da cidade que não foram convidados eram
bem-vindos para vir e sentar-se ao longo das paredes, procure nas janelas e
portas, e ouvir as conversas. Lembre-se que Jesus estava reclinado no cotovelo
esquerdo, com os pés atrás dele.
[13]
O Talmude (em hebraico: תַּלְמוּד,
transl. Talmud) é um livro Sagrado dos judeus, um registro das discussões
rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo.
[14]
BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[15]
Ibid, p. 47
[16]
Cf. https://bible.org/seriespage/luke-7
[17]
SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as
parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012. P. 140
[18]
BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. P.
[19]
http://directors.tfionline.com/post/stories-jesus-told-two-debtors-luke-73650/
[20]
https://bible.org/seriespage/luke-7
[21]
BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 57
[22]
O Grego é literalmente "vai para dentro da paz" e talvez valha a pena
notar que os rabinos sustentavam que "Vai em paz" era apropriado ao
despedir-se dos mortos, mas aos vivos deve.se dizer, "Vai para dentro da
paz”. Cf. Moed Katan apud MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e
comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986. p. 141
[23] CALVINO, João. O livro dos Salmos: volume 3:
salmos de 69-106. São Paulo: Parakletos, 2002. P. 520.
[24] LAIRD HARRIS, R. et al. Dicionário
internacional de teologia do antigo testamento. São Paulo, Vida Nova, 1998. p.
601.
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