Noé: O fim é apenas mais um começo
Parte 2: Tema: Por que não está chovendo forte e para sempre lá fora?
Texto: Gênesis 9. 8-17
Estrutura do Texto:
Versos 8 - 11 – Deus estabelece a Aliança
8 Então disse Deus a Noé e a seus
filhos, que estavam com ele: 9 "Vou
estabelecer a minha aliança com
vocês e com os seus futuros descendentes, 10 e com todo ser vivo que está com vocês: as aves, os rebanhos domésticos e
os animais selvagens, todos os que
saíram da arca com vocês, todos os
seres vivos da terra. 11 Estabeleço uma aliança
com vocês: Nunca mais será ceifada nenhuma forma de vida pelas águas de um
dilúvio; nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra".
Versos 12 - 16 – Deus mostra o sinal da aliança
12 E Deus prosseguiu: "Este é o sinal da aliança que estou fazendo entre mim e vocês e com todos os seres vivos que estão com
vocês, para todas as gerações
futuras: 13 o meu arco que coloquei nas nuvens. Será o sinal da minha aliança com a terra. 14 Quando eu
trouxer nuvens sobre a terra e nelas aparecer o arco-íris, 15 então me
lembrarei da minha aliança com vocês
e com os seres vivos de todas as
espécies. Nunca mais as águas se tornarão um dilúvio para destruir toda forma
de vida. 16 Toda vez que o arco-íris
estiver nas nuvens, olharei para ele e me lembrarei da aliança eterna entre
Deus e todos os seres vivos de todas as espécies que vivem na
terra".
Verso 17 – Síntese da mensagem.
17 Concluindo, disse Deus a Noé: "Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e toda forma de vida que há sobre a terra".
Exposição
Seguindo a sequência
apresentada na síntese da mensagem (verso 17) analisaremos o sinal e seu
significado e em seguida a aliança e seu significado.
1. DEUS MOSTRA O SINAL DA ALIANÇA
12 E Deus prosseguiu: "Este é o sinal da aliança que estou fazendo entre mim e vocês e com todos os
seres vivos que estão com vocês, para todas as gerações futuras: 13 o meu arco que coloquei nas nuvens.
Será o sinal da minha aliança com a terra. 14 Quando eu trouxer nuvens sobre a
terra e nelas aparecer o arco-íris, 15 então
me lembrarei da minha aliança com vocês e com os seres vivos de todas as
espécies. Nunca mais as águas se tornarão um dilúvio para destruir toda forma
de vida. 16 Toda vez que o arco-íris estiver nas nuvens, olharei para ele e me lembrarei da aliança eterna entre
Deus e todos os seres vivos de todas as espécies que vivem na terra".
O que é um arco-íris?
Normalmente, um
arco-íris é visto quando parte do céu está escura, e há chuva em uma parte do
céu e o sol está brilhando no outra. E para o arco-íris ser visível, o sol tem
de está por trás do observador que observa de frente o arco-íris. A luz do sol
bate nas gotas de chuva e reflete no pano de fundo (nuvens escuras) as cores
vibrantes.
Os vários tipos de significados do arco-íris[1]
Uma escada entre o céu e a terra
Na mitologia grega se atribui
o arco-íris para a deusa Íris. Nesse mito ele seria um cinto de Iris que
representa um caminho entre o céu e a terra. Assim, alguns dizem que ele é uma
escada que desce do céu para a terra e vice-versa, de modo que mensageiros podem
trazer as mensagens dos deuses.
A causa da seca
Em algumas partes do
mundo, se acredita que o arco-íris é a causa da seca, porque o arco-íris
aparece quando a água caiu em alguns lugares. Assim, a superstição é que o
arco-íris seria uma espécie de esponja que puxa água de volta para céu. Logo, é
isso que cria as secas.
A fonte de mensagens místicas
Nas mais variadas
culturas as cores são vistas de forma mística: Verde abundância. Vermelho: guerra.
Amarelo: morte. E assim por diante. Ou ainda, como um sinal de boa ou má sorte.
A astrologia diz que o
céu é cheio de sinais e mensagens para os homens, mas biblicamente há apenas um
sinal no céu que tem uma mensagem espiritual: o arco-íris. No entanto, qual é
seu significado? A resposta para esta pergunta se encontra na gênesis do
arco-íris, a saber, o texto que lemos.
O conceito bíblico do arco-íris.
A palavra traduzida por
“arco-íris” é apenas arco na língua original na qual a Bíblia foi escrita (hebraico).
Esta é a mesma palavra usada para se refere a um arco de guerra, uma arma de
morte e destruição comum no mundo antigo. Na literatura do Oriente Próximo
muitas vezes as divindades eram representadas com arcos nas mãos prontas para
guerra.[2]
Varias passagens do
Antigo Testamento apresentam Deus como um guerreiro com um arco na mão pronto
para batalha. Essa imagem é vista no dilúvio. O narrador (Moisés) apresenta,
nos primeiros capítulos da narrativa, Deus como um guerreiro que atirou suas
flechas de raios (e com elas a chuva) sobre a terra, trazendo destruição e
morte. Todavia, o Senhor Deus, por causa da sua misericórdia e motivado por sua
graça, pendurou seu arco no céu, mostrando que agora ele se encontra
“desarmado”.
Chegará um dia em que o
universo será destruído, não pelas águas, mas pelo fogo: “Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão
desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada” 2
Pedro 3.10) e substituído por um novo céu e uma nova terra. No futuro, Deus vai
voltar para a batalha final. Mas, por
enquanto, o grande Deus, que é temível guerreiro, pendurou seu arco em sinal de paz.
O narrado assevera que
não é só você que ver o arco da paz. Deus
também o contempla e se lembra de sua aliança. Mas, Deus precisa de lembretes
visuais? Não. Esta é a Sua maneira de nos dizer que Ele não se esquecerá de sua
palavra firmada com Noé. Calvino, usando o princípio da acomodação da revelação
assevera: “Deus, no entanto, fala à maneira dos homens, quando ele diz que com
a visão do arco-íris, ele se lembrará da sua aliança”.
Não se esqueça de que a
palavra lembrar é linguagem familiar da aliança do Velho Testamento. Ela aponta
para o fato de que Deus nunca se esquece de sua promessa, Deus se lembra de sua
aliança e Deus é fiel. Como vimos na exposição anterior a narrativa do dilúvio
é moldada na forma de um grande quiasmo, que é uma estrutura que se volta sobre
si mesma e tem como parte principal se centro. Na história do dilúvio o centro
é: “Deus lembrou-se de Noé” (8.1). Como se observa no gráfico[3]
abaixo:
INTRODUÇÃO TRANSICIONAL (6.9-10).
A. Violência (caos) na
Criação (6.11-12).
B. O Senhor decide destruir a terra
(6.13-22).
C. O Senhor dá a ordem para entrar na
arca (7.1-10).
D. Começa o
diluvio (7.11-16).
E. Aumentam
as águas do diluvio (7.17-24).
F. “DEUS LEMBROU-SE DE NOÉ” (8.1 a).
E. Diminuem
as águas do dilúvio (8.1 b-5).
D. A seca
terra (8.6-14).
C. O Senhor
dá a ordem para sair na arca (8.15-19).
B. O Senhor decide manter a terra (8.20-22).
A. A paz (Shalom) na criação de Deus (9.
1-17).
CONCLUSÃO TRANSICIONAL (9.18-19)
Como vimos na mensagem
anterior à ideia da palavra hebraica “lembrar” não é exatamente a mesma que a
nossa palavra em português. Em hebraico ela significa muito mais do que
“recordação mental de coisas esquecidas”. Significa agir em cima de
um compromisso anterior, no caso uma aliança. Sendo assim, as palavras “Deus lembrou-se
de Noé”, estão relacionadas com o alinhamento das ações de Senhor com suas
palavras, ou ainda com a fidelidade de seu caráter. O Senhor, por exemplo,
começa sua obra de redenção após lembrar-se de sua aliança com Abraão, Isaque e
Jacó em Êxodo 2.24.
Por que não está
chovendo forte e sem parar lá fora? Por que Deus a cada chuva forte se lembra
de nós. Toda vez que você ver um arco-íris, lembre-se, ele representa a vitória
da graça sobre o julgamento. O que este mundo merece? Guerra e destruição. O
que ele tem conseguido? Graça e paz. Isso
só está acontecendo porque Deus pendurou o seu arco da paz no céu.
2. DEUS ESTABELECE A ALIANÇA.
A palavra aliança
aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 6.18 e agora (Gênesis 9. 8-17) será
explicada e amplificada. Ela forma um motivo central, tanto para a compreensão do
Antigo Testamento, como do Novo Testamento, para se compreender a relação entre
Deus e a humanidade.[4]
A aliança de Deus com Noé tem algumas características. Vejamos-las de forma
resumida.
1.
Essa é uma aliança Unilateral
A aliança é a base para
relação de duas partes que estão vinculados em um relacionamento. Um acordo
sobre as obrigações e privilégios que a relação irá acarretar. A palavra
Aliança (em hebraico: berith; em grego, segundo a tradução da Septuaginta,
diatheke) pode indicar um acordo mútuo voluntário: bilateral, ou também uma
disposição ou um arranjo imposto por uma parte à outra: unilateral. Berkhof observar que “seu sentido exato não depende da
etimologia da palavra, nem do desenvolvimento histórico do conceito, mas,
simplesmente das partes interessadas”.[5]
A Bíblia usa a palavra aliança nos dois sentidos supracitados:
Aliança no sentido bilateral.
Frequentemente,
“aliança”, representa um acordo entre duas partes em que há paridade básica.
Ambos entram no tratado de forma voluntária, resultando em uma relação de
parceria. O Antigo Testamento retrata alianças em vários aspectos:
·
Entre
indivíduos, como por exemplo: Davi e Jônatas (1 Samuel 18.3-4);
·
Entre
as famílias, como é o caso de Jacó e Labão (Gênesis 31.54);
·
Entre
nações como Israel e os cananeus (Êxodo 23.32; 34.12, 15);
·
Este
termo pode descrever ainda, aliança de casamento (Provérbios 2.17; Malaquias 2.14);
·
Acordos
comerciais internacionais (1 Reis. 20.34).
Nestes casos as alianças foram bilaterais, isto é, um acordo
entre os dois lados com pessoas de paridade básica, ou seja, dois iguais.
Sentido unilateral
Um segundo uso descreve
uma aliança imposta por um superior ao seu subordinado (Cf. Josué 9. 1 Samuel
11.1-2). Nesse caso ela geralmente indica um acordo feito “por alguém”, não “com
alguém”. Nesse sentido a tanto a paridade, como a igualdade entre as duas
partes é ausente.
Este tipo de aliança é
frequentemente feita por Deus com os homens. Apesar das alianças serem
geralmente negociáveis, as alianças entre Deus e os homens não apresentam este
caráter, pois os homens não têm paridade com Deus. Os teólogos da CFW
(Confissão de fé de Westminster) afirmaram que “tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as
criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir
nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária
condescendência da parte de Deus, a qual agradou-lhe expressar por meio de uma
aliança”
Assim, nas alianças de
Deus, é somente Ele que estabelece as condições. Na aliança com Noé a linguagem
é precisa e evocativa, demonstrando entre outras características a iniciativa
soberana de Deus no vínculo estabelecido. Logo, este não é um tratado mútuo
iniciado entre parceiros mais ou menos iguais. Há duas partes envolvidas (Deus
e Noé), mas o movimento é de Deus para com Noé, sugerindo que o inverso
nunca, de fato, pode ter ocorrido. Sou eu que vou estabelecer. Essa é a minha
aliança com vocês. Insiste Deus. Ele determina o que Ele fará de acordo com o
conselho da sua própria vontade. Assim a
aliança é UNILATERAL.[6]
2. Essa é uma aliança Incondicional.
Além de ser uma aliança
unilateral ela é também incondicional. No oriente médio antigo esta aliança, de
caráter unilateral, era também chamada de uma “concessão real”, entre um senhor
e um vassalo. Essa verdade ecoa em Gênesis 9. 8-17. Deus como um Rei soberano estabelece
os meios e os fins e o modo administração da aliança.
O cumprimento de sua
promessa não reside na ação futura de Noé e sua família, mas na sua própria
ação de estabelecer a sua aliança. Ela
é literalmente concretizada por Deus.
Nos versos 9 e 11 Deus disse que é
ele que estabelece a aliança. O verbo
estabelecer significa “erguer”, “fazer firme”, “colocar em uma posição
solidamente”. Em uma linguagem popular “firmar em um bom concreto”. Sendo
assim, esse acordo está alicerçado no próprio caráter de Deus, o qual ao longo
da narrativa deu prova que é fiel.
Deus não disse que a
promessa seria revogada se os homens alcançassem novamente os mesmos níveis de
pecados como fizeram antes. Se assim
fosse choveria forte e sem parar lá fora pelos próximos 40 dias e pelas
próximas 40 noites, pois já estamos vivendo novamente como nos dias de Noé.
Essa aliança não era dependente de Noé, sua família ou de nós. Dependia apenas da
palavra de Deus, a qual está alicerçada ou concretizada no seu caráter. O homem
é “passivo” no estabelecimento e administração da aliança.
E o aquecimento global?
O derretimento das geleiras? E as chuvas no centro oeste e norte do Brasil? Reconhecendo
que os seres humanos são (ainda) propensos à maldade, Ele prometeu não destruir
o mundo de novo, e que as leis que regem o dia e a noite e as estações do ano,
seriam preservadas por tanto tempo quanto existisse a terra (Gênesis 8.21-22;
9:8-17). Assim, embora tenha havido inundações locais que mataram muitas
pessoas e animais, nunca mais haverá uma inundação de proporções universais
como nos dias de Noé, pois Deus assim disse.
Além disso, a despeito
de nossa obrigação de cumprir o mandato cultural e cuidar da natureza, não está
em nossas mãos o poder de preservação. Não há condições por parte do homem para
validar a aliança ou invalidá-la. Não há condição no homem que o fez merecer a
aliança, nem que possa causar sua rescisão.
3.
Essa é uma aliança Universal
Nenhuma outra aliança bíblica
em vigor se aplica a toda humanidade. A aliança, com Abraão, Davi e Nova
Aliança, não se aplicam a toda a humanidade. Esta é a única que se aplica a
todos de forma comum. A ideia de totalidade rege a narrativa (as palavras, “todo”,
“todos” e “todas”, são repetidas varias vezes no texto). Isso na narrativa
hebraica é sinônimo de ênfase. O Moisés está enfatizando que essa não é uma
aliança com Noé e a sua família apenas. Ela é com toda a criação.
4.
Essa é uma aliança Perene
Essa é também uma
aliança perene, isto é, teve início, mas não terá fim. Ela é “para todas as
gerações futuras”. Gênesis 9.12. Nós sabemos quanto tempo vai durar. No
capítulo 8 versículo 22: “Enquanto a terra durar”. Isso define o caráter perene
da aliança. Em quanto houver terra haverá esta aliança.
APLICAÇÕES
Noé e Jesus.
1. Sabe por que Deus não exigiu nada de Noé? Porque ele exigiria tudo de
Cristo.
O pacto é incondicional
para Noé, porque Cristo é a condição de Deus. A aliança ganhará mais elementos
no decorrer das Escrituras e um deles será obediência perfeita a Lei. Sabe por
que só Cristo pode te declarar justo? Porque só ele obedeceu a Lei de forma passiva:
ele se submeteu a ela; e ativa: Ele a cumpriu em sua totalidade.
2. Deus guardou o arco, mas isso não quer dizer que a guerra acabou.
Pedro fala que Deus
destruirá a terra com fogo: “O dia do
Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo,
os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será
desnudada”. (2 Pedro 3:10). Assim, haverá um fim para o nosso mundo como
houve para o mundo de Noé. Os que estiverem fora do objeto de madeira da
salvação na nova aliança, isto é, a cruz; pereceram, a semelhança dos que
estiveram fora da arca nos dias de Noé. Por isso, se você é inimigo de Deus
esta é a oportunidade de paz por meio do sangue de Jesus. Pois, haverá um dia
em que o arco dele se voltará para humanidade não mais com raios de chuva, mas
com flechas de fogo. Neste dia nenhum dos seus inimigos escapará.
Para os eleitos essa é
uma mensagem de consolo que motiva a fé. No dia do julgamento, Deus, motivado
por sua graça e misericórdia, se lembrará dos que são seus, os quais a
semelhança de Noé e sua família serão salvos.
3. Deus em Cristo vai formatar novamente a terra.
Na exposição de Colossenses vimos que Cristo “reconciliou consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra,
quer nos céus” (Cl. 1. 20). O verbo
utilizado por Paulo para “reconciliação” (ἀποκαταλλάξαι) ocorre apenas mais
duas vezes no Novo Testamento (v. 22; Ef 2.16.). Seu uso neste texto parece
similar aos demais usados pelo Apóstolo e traz a ideia de “mudança de inimizade
para amizade”, “nova harmonia” e “nova paz”. (cf. Rm 5.10, 11; 2 Cor 5.18-20;).
Segundo Vaughan, a maneira que ele foi colocado aqui, provavelmente tem a força
intensiva: “para mudar completamente”, ou, “mudar de modo a remover toda a inimizade”.[7]
Em cristo a criação volta à paz com
Deus! O clímax da
história humana acontecerá onde tudo começou: na terra. Se o homem a contaminou, Cristo a redimiu e sua obra será
definitivamente consumada no último dia.
Douglas Moo, postula que a ideia desta
restauração universal, tem como pano de fundo a previsão do Velho Testamento
que, no último dia Deus vai estabelecer a שָׁלֹום
(“shalom” - “paz” ou “bem-estar”) universal. Javé sobre a forma de “paz” traria
segurança e bênção como prometeu a Noé de forma visível com o arco da paz
(arco-íris).
Na nova terra reinará a שָׁלֹום
(“shalom” - “paz” ou “bem-estar”).[8]
Esse será um tempo no qual, não apenas seu arco de guerra, mas todas as armas
de guerra de Deus não mais serão usadas como sua criação.
Noé e nós
1.
Paz ao invés de preocupação.
No dilúvio choveu pela
primeira, mas não pela última vez. A chuva faria parte do novo mundo, no
entanto, Noé não sabia disso. Se você morasse em São Paulo e em um final de
tarde olhasse para o céu e visse nuvens pretas e minutos depois chuvas
torrenciais, você poderia até não sair de casa, mas não ficaria desesperado.
Você já viu outras chuvas assim. MacArthur observa que com Noé é diferente. A
única chuva que ele tinha visto, depois de 600 anos de vida, tinha acabado com
o mundo. Essa aliança é entre outras coisas Deus dizendo para Noé “Não se
preocupe, filho, não se preocupe. Vai chover e a chuva será uma parte da vida,
mas nunca será uma devastação em todo o mundo como a primeira chuva”.[9]
As pessoas ansiosas
precisam de garantias. Elas precisam não penas uma vez, mas varias vezes. Além
disso, a semelhança de Tomé elas precisam ver. E se possível tocar para
acreditar. Deus graciosamente repete a palavra aliança sete vezes em 9:8-17,
para entre outras coisas gerar fé no coração de Noé. Além disso, ele coloca um
sinal visível: seu arco da paz. Em Cristo Ele deixou um sinal palpável da sua aliança
conosco: a santa ceia.
A preservação implica em proclamação
Pedro diz que o dia do
juízo e da punição final está sendo retardado porque há ainda mais pessoas que
serão salvas. Segundo ele: “O Senhor não
demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é
paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento.” (2 Pedro 3:9,10). De fato, essa é uma das razões da
preservação divina. Deus deseja salvar e salvará em Cristo Jesus pessoas dos quatro
cantos do mundo. Assim, Ele não poderia destruir todos os pecadores
imediatamente (nesse caso não sobraria ninguém da raça humana para ouvir sua
mensagem de graça). Ao contrário, Ele resolveu permitir que seres humanos
pecaminosos vivessem algum tempo de modo a ter uma oportunidade de
arrependimento e também para que pudessem gerar filhos, capacitando gerações
subsequentes a viver, a ouvir o evangelho e a se arrepender de seus pecados.
Assim, o caráter
universal da aliança com Noé provê o fundamento para a proclamação universal do
evangelho no século presente. Logo, a igreja deve compromete-se com a
evangelização mundial. Nas palavras de
John Piper as missões existem para a glória de Cristo. Seu propósito é
restabelecer a supremacia de Cristo entre os
povos do mundo. O alvo da missão de Cristo (e deve ser o nosso) é que Deus seja
glorificado pelas nações à medida que elas provem da sua misericórdia.[10]
Cuidado com a Natureza[11]
Para Berkhof “a aliança
com Noé é uma aliança que só confere bênçãos naturais e, portanto, muitas vezes
recebe o nome de aliança da natureza ou da graça comum. Não há objeção a essa
terminologia, contanto que não dê a impressão de que esta aliança está
inteiramente dissociada da aliança da graça. Conquanto ambas difiram, são
também estreitamente relacionadas uma com a outra”.[12]
Assim, a aliança com
Noé nos desafia a cumprir o mandato cultural dado por Deus aos homens. Deus nos
colocou como vice-reis ou mordomos da criação. Como nos lembra John Stott,
teólogo britânico, “o domínio que exercemos sobre a terra, não nos pertence por
direito, senão, somente, por favor. A terra nos “pertence” não porque a criamos
nem porque somos seus proprietários, senão, porque seu Criador no-la (sic) tem
confiado para dela cuidar.”
Vivemos em uma época,
na qual, o gemido da criação tem aumentado e a natureza tem se contorcido com
os fenômenos naturais. O cumprimento ao mandato cultural não é apenas mais uma
exigência divina, mais também uma necessidade humana. A obediência ao mandado
cultural nunca foi tão necessária quanto nos dias atuais. Cuidar do mundo
criado não é uma opção, mas sim uma obrigação para quem é cristão.
[1]
Cf. MacArthur, John. God's Rainbow
Covenant. Disponível em:
www.gty.org/resources/sermons/90-263/gods-rainbow-covenant. Acessado:
04/04/2014.
[2]
CONSTABLE, Thomas L. Notes on Genesis.
Disponível em: www.soniclight.com/constable/notes/pdf/genesis.pdf Acessado em:
/03/04/2014
[3]
Cf. GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a
partir de Gênesis: fundamentos para sermões expositivos. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009.
[4]
Cf. HORTON, Michael. O Deus da promessa: introdução à teologia da aliança. São
Paulo: Cultura Cristã, 2010. 160 p.
[5]
BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã.
2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. 272 p
[6]
THOMAS, Derek. The Covenant Keeper.
Disponível em: www.ligonier.org/learn/articles/covenant-keeper/ Acessado em:
03/04/2014
[7] VAUGHAN, Curtis:
Colossians. In: Gaebelein, Frank E. (Hrsg.): The Expositor's Bible
Commentary, Volume 11: Ephesians Through Philemon. Grand Rapids, MI :
Zondervan Publishing House, 1981, S. 172
[8] MOO, Douglas J.: The Letters to the Colossians and
to Philemon. Grand Rapids, MI : William B. Eerdmans Pub. Co., 2008 (The
Pillar New Testament Commentary), Disponível na Bíblia eletrônica Logos.
[9]
MacArthur, John. God's Rainbow Covenant.
Disponível em: www.gty.org/resources/sermons/90-263/gods-rainbow-covenant.
Acessado: 04/04/2014.
[10] PIPER,
John, Alegrem-se os Povos - A Supremacia de Deus em Missões, Ed.
Cultura cristã (São Paulo: 2001)
[11]
Cf. HORTON, Michael. O Deus da promessa:
introdução à teologia da aliança. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. 160 p.
[12]
BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã.
2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. 272 p
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