RESENHA CRÍTICA INFORMATIVA
Em 2017 Pregarei lá! Borá?
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LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008. 287p.
O Dr. Ronaldo Lidório é de formação e pensamento reformado calvinista. Seus pressupostos são bíblicos, e ele usa as Escrituras como Senhora e não como serva. Além disso, Lidório não é um acadêmico que escreve no conforto de sua escrivania. Ao contrário, é um missionário prático, que tirou da prática seus princípios teóricos. No presente livro ele expõe uma metodologia desenvolvida para análise sociocultural a partir de ferramentas etnográficas, etnológicas e fenomenológicas. Utiliza a antropologia como um mecanismo facilitador para a comunicação do evangelho em contexto intercultural. A obra é repleta de gráficos que contribui para o direcionamento do leitor e fixação das verdades já confirmadas.
Obra que estar dividida em dez capítulos e procura abordar a antropologia como aliada no desenvolvimento de idéias, fomentação de estudo e conhecimento humano e, sobretudo, como uma ferramenta prática no processo de adaptação pessoal, desenvolvimento de projetos e exposição do evangelho no campo missionário. Para cumprir este propósito Lidório preparar uma metodologia viável e compreensível tanto para acadêmicos e práticos, o que ele chama de “Método Antropos de Pesquisa Sociocultural” que é subdividido em três partes Antropos (que visa à pesquisa etnográfica); o segundo é o Pneumatos (visando à pesquisa fenomenológica) e por fim o Angelos (de aplicabilidade teológica a partir de padrões culturais definidos).
Nos primeiros quatro capítulos o autor faz uma introdução geral à matéria de antropologia. De início fala sobre os “pressupostos teológicos” (capítulo 1º) no qual destaca os perigos da comunicação intercultural tais como impositivo, pragmático, sociológico. Em seguida, tendo como base o texto de Romanos (1.18-27), fala dos pressupostos teológicos que deve guia à contextualização, sendo eles: a Palavra de Deus é supracultural e atemporal; o pecado nos separa de Deus; somos seres culturalmente “buscadores” de um divino utilitário; a mensagem pregada deve ser contextualizada expondo Deus em relação à realidade da vida e queda humana. Finaliza o capítulo a dizendo sobre a “avaliação da comunicação do evangelho” destacando que nesta a pergunta não é apenas “como “contextualizar”, mas especialmente “o que contextualizar”.
No segundo capítulo conceitua a Antropologia, a Cultura e o Homem. A primeira como sendo “o resultado da aglutinação histórica de impressões, fatos e idéias sobre a identidade do homem disperso em seus diferentes ajuntamentos sociais”.[1] Citando Paul Hiebert[2] entende ser a cultura “os sistemas mais ou menos integrados de idéias, sentimentos, valores e seus padrões associados de comportamento e produtos, compartilhados por um grupo de pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz”. [3] E finalmente conceitua o homem como “o ser em cultura, que se define a partir da sua história, suas idéias e envolvimento social”.[4]
O terceiro capítulo é dedicado a “orientação de aquisição lingüística e padrões de abordagem Cultural”. Nele o autor inicia falando sobre “aquisição de cultura e língua” enfatizando elementos para o estudo e aprendizado de uma língua. Em seguida dar alguns conselhos práticos para a aquisição lingüística e cultural; Por fim, trata dos três padrões de aproximação cultural: “ético” [5] (observa a partir de um valor cultural predefinido pelo observador); “êmico” [6] (observa a partir dos valores do outro); “êmico-teológico” [7] (observa a partir dos valores Bíblicos).
No Capítulo quatro o autor se propõe a tratar “a respeito das metodologias antropológicas para o estudo cultural” no qual destaca a relevância da metodologia, com o uso do método de observação participante; o sistema adaptativo que descrever a cultura como a ferramenta usada pela sociedade para manter sua adaptação à natureza e teorias idealistas que entende que a cultura pode ser limitada aos aspectos comunicativos e significativos da vida social.[8] Finaliza com sistema simbólico que ver a cultura não como um complexo de comportamentos concretos, mas um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções para governar o comportamento.[9]
Os últimos seis capítulos são dedicados ao método “ANTROPOS” desenvolvido pelo autor. No quinto capítulo o autor se dedica a abordagem primeira parte do método ANTROPOS [10] que leva o mesmo nome do método. As dimensões analisadas nesta abordagem são: histórica (que se preocupa com historicidade cultural e origem universal); ética (analisa a culturalidade, isto é, heranças culturais de agrupamento, heranças de relacionamento, heranças de religiosidade e Reguladores sociais); étnica (analise dos grupos sociais divididos em: progressistas ou tradicionais, existenciais ou históricas, teófanas ou naturalistas); e fenomenológica (que aborda os fenômenos religiosos da cultural). Estas dimensões respondem as questões determinantes para a compreensão geral de uma cultura que são: a origem (quem somos nós?); os valores (como nós pensamos?); a cultura (como vive o nosso grupo?) e a religião (que forças dominam em nosso meio?).
No sexto e sétimo capítulo o autor trata da abordagem PNEUMATOS.[11] O primeiro é uma introdução ao assunto onde Lidório fala sobre a limitação das sociologias da religião, faz considerações sobre a fenomenologia religiosa e sobre a aplicação da a fenomenologia na análise dos fatos sociais e religiosos. O segundo (sétimo) ele desenvolve sua abordagem. Falando sobre os quatro padrões de observação dos fenômenos religiosos (Observação analítica, axiomática, observação Correlativa, explicativa); depois defini as áreas a serem observadas (atos da vida, da providência e de adoração); descreve a funcionalidade humana na organização religiosa, bem como a funcionalidade dos seres invisíveis na organização religiosa (que se dão por meio da magia, mitos, ritos, totemismo).
No capítulo oito trata das “atitudes de Abordagem do Sagrado, do Profano, dos Tabus e Cosmologia”. A proposta do capítulo é abrir os olhos do leitor para observar a cosmovisão do grupo alvo em relação ao sagrado e profano, tabus e assuntos pertinentes. Através de uma analise da cultura e religiosidade, tendo como objeto de estudo termos como Sagrado, Profano e Tabus. Finaliza falando dos conceitos e critérios antropológicos para a comunicação relevante do evangelho, de modo que ele seja transmitido de uma maneira que mantenha a integridade de seu conteúdo original (planejado pelo transmissor) e seja compreendido, absorvido e traduzido para o contexto diário, por parte de quem a ouve (o receptor).
No capítulo nove, abordagem ANGELOS,[12] é central no que se refere à aplicabilidade dos métodos expostos ao longo do livro. O propósito desta abordagem é levar a mensagem ser aplicada de acordo com a estrutura cultural do receptor, o que gerará boa compreensão e um partilhar de idéias de forma viável. Para isso, ele relembra os princípios de comunicação (informação, interpretação, associação) já tratados na introdução do livro. Para a aplicação da abordagem ANGELOS são necessárias as conclusões dos métodos anteriores: conclusões simples (culturas com identidade simples, apenas tradicional ou histórica, por exemplo); conclusões complexas (culturas com identidades múltiplas: tradicional, histórica e teófana, ao mesmo tempo, por exemplo); conclusões aplicadas (evangelho contextualizado e apresentado, de modo entendível, de acordo com esta duas conclusões anteriores). Ronaldo finaliza com algumas referências bíblicas úteis para teologias bíblicas (temáticas) que visem comunicar o evangelho e assistir o povo no amadurecimento bíblico, de forma contextual e aplicável. Teologia bíblica da Criação (Rm 11.36, Hb 1.2); da Queda e Pecado Original (Gn 3.13; II Co 11.3); dos Patriarcas (Is 42. 1, I Pe 1. 19-20); de Cristo (Ef 5.23;, At. 17.31); da Igreja (I Cr 1.2, At 2.39); da Revelação (Dt 6.4, I Co 8.4).
No décimo e último capítulo o autor discute “a conversão em uma perspectiva cultural”. Para ele as possíveis etapas no processo de conversão de um povo são: Observação. (o indivíduo observa o que se passa sem demonstrar interesse); Assimilação (o indivíduo de fato entende o que se deseja ensinar); Experimentação (o indivíduo deseja participar; Conversão (o indivíduo, convertido, testemunha de sua conversão encorajando outros).
Alguns das teses desenvolvidas pelo autor merecem o nosso destaque. A primeira é quando ele diz que “não basta comunicarmos a mensagem do evangelho. É necessário fazermos isto na língua do povo, dentro de seu bojo de compreensão cultural, em sua própria casa e sociedade”.[13] Para Lidório o eficaz comunicação do evangelho só será possivel se comprendermos o espírito da nossa época e a cultura que vivemos. Somente assim poderemos proclamar o evangelho bíblico com fidelidade e sensibilidade. O que para ele não é apenas uma opção, mas uma opção, mas necessidade vital.
Outra tese levantada pelo autor é que “devemos compreender que as leis, normas, hábitos e costumes, bem como a tradição não são escalas que elaboram o pensamento humano. Pelo contrário, são o resultado deste pensar”[14]. O que implica dizer que a cultura é uma manifestação visível dos pressupostos de um povo. Com isso conhecer a cultura é conhecer o que estar na mente. Se não conhecermos a cultura não conheceremos a mente. Falaremos, mas não seremos entendidos. Kenneth diz que “não é suficiente gritar: ‘blasfêmia’, quando alguém não entende exatamente o que está errado e que declarações verdadeiras devem ser postas no lugar”.[15] Assim, “é necessário, portanto, entender o mundo invisível do grupo estudado, sua maneira de ver e interpretar a vida e o universo, e também de absorver um valor comunicado”.[16]
Outra importante tese levantada por Ronaldo é a neutralidade cultural do pesquisador na aproximação cultural, mas sem deixar de ser bíblico. Ele diz: “É necessário entender que a mensagem do evangelho não é uma proposta importada para a cultura alvo nem mesmo um diálogo aberto onde valores bíblicos são negociados. É portanto uma resposta, supra cultural mas culturalmente aplicável, de Deus para homens de todas as culturas em todas as gerações, respondendo as questões pessoais e culturais em uma sociedade.”.[17] Essa sua tese ganha uma elemento fundamental quando diz que aproximação cultural não deve ser “ético” [18] (observar a partir de um valor cultural predefinido pelo observador); nem “êmico” [19] (observar a partir dos valores do outro); mas sim “êmico-teológico” [20] , isto é se aproxima e observa a cultura a partir dos valores Bíblicos. Logo a solução para os problemas do mundo moderno não é estudá-los apenas numa perspectiva sociológica e antropológica, mas também bíblica teológica.[21]
A última tese que analisaremos diz respeito à correta aplicabilidade da mensagem. Lidório diz “assim a mensagem deverá ser aplicada de acordo com a estrutura cultural do receptor, o que gerará boa compreensão e um partilhar de idéias de forma viável”.[22] A mensagem para se eficaz deve ser aplicada de forma entendível e viável. Este princípio é o que nós chamamos de “contextualização”. Que é um dos maiores desafios que todos os missionários de todas as épocas sempre tiveram e continuam tendo, que é o de proclamar o evangelho bíblico com fidelidade e sensibilidade. Ronaldo Lidório em outro livro diz que “nenhum principio universal poderá ser bem comunicado a um grupo ou seguimento social distinto sem que seja contextualizado.” [23] Ronaldo aviva em nossas mentes uma das grandes verdades misiológicas: os missionários precisam não somente de uma compreensão sólida das Escrituras, mas também de um profundo conhecimento das pessoas a quem servem, a fim de comunicar a mensagem de forma contextualizada, preservando o conteúdo da verdade bíblica, ao mesmo tempo em que a faz culturalmente relevante. [24]
A grande pergunta a se respondida é “quais parâmetros o comunicador deve considerar para manter-se fiel na comunicação dessa verdade ao mesmo tempo em que a contextualiza de forma relevante?” Stott procura fornecer uma resposta equilibrada para a questão. Segundo ele as verdades bíblicas e as necessidades culturais não podem ser polarizadas ou divorciadas. Segundo ele é necessário combinar fidelidade, (exegese do texto bíblico), com sensibilidade (exegese do cenário contemporâneo). Todavia estas duas coisas que deveriam andar de mãos dadas, muitas vezes caminham divorciadas, por questões históricas. A Dra. Barbara Burns mostra-nos isso nas seguintes palavras:
“Colhemos hoje frutos amargos do nominalismo cristão e do sincretismo religioso, que germinaram a partir de um enfraquecimento da centralidade da Palavra durante o trabalho de comunicação do Evangelho... Paralelamente também colhemos frutos amargos pela ausência de compreensão cultural na apresentação de Cristo”. [25]
Lidório nos ajuda a entender que precisamos pregar o evangelho de forma bíblica e teologia e de maneira relevante e entendível.
Ronaldo Lidório através do método dedutivo aborda o assunto proposto de forma didática, e, dentro de uma seqüência sistemática (seu ponto forte) e lógica. Trata dos temas propostos grande com profundidade mostrando um vasto conhecimento do assunto, e uma grande habilidade de articulação. O autor não faz conclusões pessoais de forma sistemática ao finalizar cada capitulo. Todavia suas conclusões e convicções religiosas estão implícitas em todo o seu texto. Seus pressupostos bíblicos e reformados. A obra é fruto de suas pesquisas e de seus trabalhos na plantação de igrejas entre grupos não-alcançados no oeste africano (nas tribos Konkomba e Chakali) e na Amazônia brasileira (onde atualmente lidera uma equipe missionária que trabalha entre os indígenas).
A obra é um excelente texto, e sua leitura da foi bem produtiva, pois, de maneira clara e profunda foi possível conhecer a antropologia numa perspectiva bíblica, bem como sua aplicabilidade na obra da evangelização. A grande contribuição da obra é apresentar a fidelidade bíblica e sensibilidade cultural como sendo possível andarem juntas e ao mesmo tempo divorciadas do pragmatismo. A maioria das obras de antropologia normalmente aborda a questão apenas considerando o aspecto humano. Ronaldo nos faz vê-la não apenas de forma horizontal, mas vertical. A obra também é repleta de gráficos que contribui para o direcionamento do leitor e fixação das verdades já confirmadas. O livro, porém, deixou a desejar por não ter as notas de rodapé que conduziria o leitor para um acesso mais rápido as obras citadas. Todavia, essa observação não tira o mérito da obra.
A obra é indicada para todos estudiosos e interessados (acadêmicos e leigos) que estão em busca de um manual pesquisar e ter respostas de questões relacionadas o seu povo, tais como: a origem (quem somos nós?); os valores (como nós pensamos?); a cultura (como vive o nosso grupo?) e a religião (que forças dominam em nosso meio?).
Por fim, nessa análise crítica, cabe a idéia de “crítica”, que vem de critério, isto, é “olhar com critério” e não apenas pra criticar. Por isso, em alguns casos as críticas, dão lugar ao elogio. O teor bíblico, a base teologia reformada e a profundidade e clareza, do livro Antropologia missionária do Lidório, nos levar a fazer isso.
[1] LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008. p. 30
[2] Hiebert, Paul G. O Evangelho e a diversidade das culturas. São Paulo. Edições Vida Nova. 1999.
[3] Paul Hiebert apud Ibid nota 1 p. 34
[4] LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008. p. 36
[5] Ibid 52
[6] Ibid 54
[7] Ibid 57
[8] Ibid 61
[9] Ibid 62
[10] A abordagem Antropos (do grego ‘homem’) propõe um estudo etnográfico e etnológico dos agrupamentos humanos.
[11] A abordagem Pneumatos (do grego ‘espírito’) sugere um estudo dos fenômenos religiosos de forma particular.
[12] A abordagem Angelos ( do grego ‘mensageiro’ ou ‘anjo’), a partir das conclusões socioculturais, propõe a apresentação do evangelho de forma contextualizada e compreensível ao grupo estudado.
[13] LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008. p. 58.
[14] Ibid p. 88
[15] MEYERS, Kenneth A.. Um caminho melhor: proclamação em vez de protesto (Cap. 2: pags. 33-47) in: HORTON, Michael Scott. Religião de Poder. Igreja sem fidelidade bíblica e sem credibilidade no mundo. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
[16] LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008.
[17]Ibid 172.
[18] Ibid 52
[19] Ibid 54
[20] Ibid 57
[21] Sobre esse assunto ver também: BIÉLER, André. A Força Oculta dos Protestantes. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, (Prefácio e Introdução – pags. 17-49).
[22] LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008. p. 179.
[23] Lidório, Ronaldo. Plantando igrejas: Teologia, princípios e estratégias para o plantio de igrejas. São Paulo Editora Cultura Cristã, 2007. p. 25
[24] Ver: HESSELGRAVE, David J. A Comunicação Transcultural do Evangelho. Vl. 1. Comunicação, Missões e cultura. São Paulo: Vida Nova, 1994. 192p.
[25] BURNS, Barbara Helen (org.). Contextualização: a fiel comunicação do Evangelho. Anápolis: Transcultural, 2007. p. 15
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