II - ESVASIANDO DE SI MESMO PARA ENCHER-SE DE DEUS
Isso não é uma idéia minha, é só lermos a Bíblia e a história dos avivamentos que veremos que Deus só derramou do Seu Espírito quando o povo se humilhou, agonizou e, convicto do seu pecado, se voltou ao Senhor. Ninguém jamais teve uma Igreja viva, sem que primeiro morresse para o pecado. Ninguém jamais teve Aliança com Deus, sem que primeiro se divorciasse do pecado.
Por isso, só há avivamento se houver uma profunda convicção de pecado. Só há avivamento, quando o povo abre suas tendas para que Deus arranque do fundo o pecado (Josué 7:22-25). Só teremos tempo de alegria no Espírito, se estes forem precedidos de tempos de choro e lamento. Oxalá chorassem os nossos pecados diante do Senhor, como os judeus choram diante do muro das lamentações.
Esdras ao ouvir o estado de abominação e pecado sem que se encontrava o povo de Deus, rasgou a sua veste, seu manto e em um sinal de desespero e humilhação e profunda convicção de pecado, arrancou os seus cabelos, tanto da cabeça como da barba. E de joelhos dobrados diante do Senhor, orou dizendo: “Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus: porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça e a nossa culpa cresceu até aos Céus” (Ed 9:6).
Este deve ser o estado que devemos nos encontrar e o sentimento que devemos ter diante do pecado, estado de profunda humilhação e sentimento de profunda vergonha. Devemos ver o pecado como Deus o vê e abominá-lo como Deus o abomina.
William E. Allem, comentando sobre o avivamento da América, que começou em 1735, com Jhonatan Edwards diz: “eles tinham profundas convicções do mal do pecado e do perigo do estado de rebelião” (Allen, 1958, p.24).
Jamais nos deleitaremos do avivamento, se seguirmos o ditado que diz: “Deus é brasileiro” e queremos em tudo dar um “jeitinho” brasileiro. Jamais o veremos, se não tratarmos o pecado como pecado, sem fazer distinção entre pecadinho e pecadão. “Os sábios da igreja apontam ‘sete Pecados Capitais’; porém, estão enganados, todos os pecados são Capitais” (Ravenhill, 1989). O pecado para Deus não tem nenhuma distinção para quem peca, resta a vergonha e a humilhação.
Enquanto não tratarmos o nosso pecado com choro e sem hipocrisia, jamais desfrutaremos do avivamento que traz alegria.
No dizer do profeta Joel, o que mais precisamos não de rasgar as nossas vestes em sinal de humilhação hipócrita, mas o nosso coração. Eis as palavras do Senhor que saíram dos Seus lábios: “Convertei-vos a mim de todo o coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração e não as vossas vestes, convertei-vos ao SENHOR vosso Deus...” (Joel 2:12, 13b).
O que precisamos não é de uma nova onda de louvor e animação, mas, sim, de uma nova onda de choro e lamentações. O que precisamos não é de uma nova emoção, mas, sim, de um novo coração.
Todos os dias de alegria no Espírito foram precedidos por tristeza no espírito. Todos os dias de alegria pelo derramamento do maná celestial, foram precedidos por dias de tristezas amargas, convicção do pecado carnal.
No despertamento de Mukti, na Índia, foi exatamente isso que aconteceu. Pandita Ramabai dá seu testemunho dizendo que em um culto onde ele expunha João 8, tal foi à atuação do Espírito Santo, que desde as crianças até as moças todas choravam amargamente, confessando seus pecados e tal era a convicção de pecado, que com lágrimas clamavam a Deus por perdão e purificação de seus pecados, e está foi a razão pela qual o avivamento pendurou por mais de um ano sendo uma bênção aos crentes da Índia (Ramabai apud Allen, 1958).
Quando o grande teólogo e avivalista Jonathan Edwards pregou seu célebre sermão “pecadores nas mãos de um Deus irado”, em 1741, o auditório gemia, chorava, agarrava-se aos bancos e caía ao chão, em choro convulsivo, tamanha era a convicção de seus pecados.
No avivamento no país de Gales, a Palavra de Deus era apresentada com tão grande poder que muitos no mesmo lugar em que estavam, clamou a Deus em alta voz pelo perdão, tamanha era a convicção de pecado.
No Despertamento na China, promovido por Deus por intermédio do Dr. Jonathan, Goforth tamanha foi à convicção de pecado, que o povo, durante quatro dias, em lágrimas, confessava e abandonava toda sorte de pecados. “O juiz local, tendo lido o noticiário, ficou curioso e [foi] assistir a um dos cultos, em trajes civis, e escutou a confissão de assassinatos, de roubos e de crimes de toda espécie. O seu espanto foi sem limite, pois como ele depois afirmou, teria de bater naquelas pessoas até quase matá-las para arrancar-lhe confissões como aquelas”. (Fischer, 1961, p.77). Os cultos duravam horas e ainda havia dezenas de pessoas de lado de fora esperando para fazer sua confissão.
Só há avivamento na igreja, quando há quebrantamento na vida. Enquanto a igreja não se quebrantar, não se humilhar e não se conscientizar do gosto amargo do pecado, não desfrutará dos favos de mel celeste.
Vivemos em uma época, onde alguns pecados são mais amigos, que inimigos. Pecados de estimação que tiram de nós a unção. A igreja acha tudo normal. E quando é questionada diz: “não tem nada a ver”. Quantos são os crentes envolvidos com o jogo, e quando questionados dizem: “não tem nada a ver. Crente na verdade não joga, faz uma ‘fezinha’”.
Quantos crentes, para a nossa tristeza, têm se envolvido com sonegação de impostos e outras infidelidades ao governo e, uma vez questionados, dizem: “o homem que quis andar muito na linha, o trem pegou”.
Crentes que não têm o fogo do Espírito, mas têm o fogo na língua têm incendiado as igrejas com a maledicência. E ainda dizem: “apenas sou sincero no que penso”. Esses jamais entenderam o que Jesus diz em Mateus 7:1-5.
Quantos jovens que exaltam a Cristo durante o culto e quando saem da Casa do Senhor, vão para casas mundanas, como boates, barzinhos, danceterias e os pais ainda dizem: “É fase da juventude, logo, logo passa”.
O que precisamos na verdade é de sensibilidade para sentirmos o odor do pecado. Precisamos não só de uma campanha nacional de evangelização, mas também de uma campanha nacional de humilhação e confissão. Precisamos deixar de trilhar pelo mangue do pecado para nadarmos nas águas do Espírito.Precisamos sair das águas barrentas do mundanismo, e mergulharmos fundo nas águas claras do Cristianismo.
Há um ditado na Bahia que diz: “macaco não olha pro seu próprio rabo”. Esse ditado serve muito para nossas vidas, pois gostamos muito de olhar o que tem de errado lá fora e nos esquecemos do que tem de errado dentro de nós.
O D. Hernandes Dias Lopes, comentando sobre a vida do profeta Isaías escreve: “Isaías, antes de ter uma visão da santidade e glória de Deus, proferiu uma série de ‘ais’ contra os gananciosos (Is. 5:8), beberrões (Is. 5:11), blasfemos (Is. 5:18,19), pervertidos morais (Is. 5:20), soberbos (Is. 5:20) e alcoólatras farristas e inveterados (Is. 5:22). Entretanto, quando ele próprio se viu diante do trono do Deus Todo Poderoso, olhou não para fora, mas para dentro, e exclamou: ‘...ai de mim!...’ (Is. 6:5)” (Lopes, 1994, p.45).
O clamor da nossa alma deve ser à semelhança de Isaías: “ai de mim! Estou perdido!”.O avivamento não virá, enquanto não reconhecermos nossa miserabilidade. Enquanto não nos esvaziarmos do pecado, Deus não nos encherá do Seu Espírito. Vivemos em épocas de grande antropocentrismo humanista As pessoas andam cheias de si e vazias de Deus. Pregadores que pregam sermões antropocêntricos, de si para si, e retêm para si a glória que deveria ser de Deus. A presença do orgulho é sinal visível da ausência do quebrantamento. Os cristãos do passado cantavam um hino que dizia: “bem-aventurados aqueles que de coração quebrantado, com profundo sentimento choram seu pecado” (Ravenhill, 1989, p. 49). Deus não usa pessoas que não estejam quebrantadas. PHD sem quebrantamento torna-se PHP: Pobre Homem Perdido.
Pedro reconheceu sua pecaminosidade, quando recebeu Jesus no barco, após o ter negado três vezes. E após receber o perdão e a graça de Deus, pregou o seu primeiro sermão da história da Igreja: três mil pessoas se converteram no avivamento do primeiro século.
Se quisermos o avivamento que vem do Céu, é mister muitas lágrimas, humilhação e quebrantamento aqui na terra. Precisamos acertar nossas vidas com Deus. Quando falo e escrevo isso não penso em ninguém mais, a não ser em mim mesmo. Quando leio a Bíblia e a história dos avivamentos, sinto-me como Paulo quando escreveu aos Romanos dizendo: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte!” (Rm 7:24).
Que a começar em mim, Deus renove a nossa sensibilidade com relação ao pecado e nos dê forças para resisti-lo. Que a minha e a sua oração sejam como a do grande avivalista Evam Roberts, no começo deste século: “Dobra-me Senhor!”. Que diariamente clamemos ao Deus do avivamento: “Senhor, dobra a minha vida! Para a Tua glória! Amém”.
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